E AINDA NÃO ENCONTREI O QUE PREGUEI

 

 


E AINDA NÃO ENCONTREI O QUE PREGUEI


 

Eu caminhei de um lado a outro…

Atravessei continentes…

Procurei nas aldeias distantes…

E também no centro das metrópoles…

 

Mas ainda não encontrei o que preguei…

 

Procurei no sorriso da criança…

Ou na consciência do adulto…

Em cada vulto… Um indulto…

Uma esperança…

 

Mas ainda não encontrei o que preguei…

 

Viajei… Naveguei…

E novamente solucei…

Pelo que não encontrei…

Uma paz em uníssono…

 

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Voltei em silêncio…

Vi tantas guerras… Tanto calafrio…

Tanta morte anunciada em vida…

Vestida de Midas…

 

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Vasculhei as cidades…

Vi tanta desigualdade…

Mesas cheias, frutas importadas…

Árvores coloridas, tão iluminadas…

Enquanto em tantas casas falta

O pão de cada dia…

Morrendo de fome tantos Josés e Marias…

 

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Percorri todos os distritos…

Vi crianças pedindo esmolas…

Crianças sem escolas…

Rostos contritos… Pais aflitos…

 

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Procurei por todas as ruas…

Vi tantas almas nuas…

Adolescentes drogados, abandonados…

Idosos nas calçadas jogados…

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Fotografei cada coração…

No lugar da alegria e do perdão

Só enxerguei mágoa e tristeza…

Vi muita dureza e aspereza…

 

E ainda não encontrei o que preguei…

 

Ainda não encontrei o que procurei…

Um eco constante a cada ano…

Que ressoa aos meus ouvidos…

Vem-me o desânimo…

 

Os ideais de fraternidade…

Irmãos dêem-se as mãos…

Não fiquem na contramão do amor…

Semeando angústia e dor…

 

Porque o que preguei…

 

Foi à festa da libertação…

A igualdade entre os homens

Sem discriminação…

O direito à vida…

 

Toda gente por mim foi redimida!

 

Porque o que preguei…

 

Foi o direito a conscientização…

A luta para extinguir o mal…

E o desejo de um mundo ideal…

 

Porque o que preguei…

 

Foi o grito de protesto a opressão…

O dia a dia lutando com ardor…

Para a morte da miséria…

Para a ressurreição do amor…

 

Eu preguei a paz… O respeito… O amor…

 

E como nada disso

Entre os homens encontrei…

Continuo procurando o que preguei…


 

Carmen Cecília & Carmen Vervloet

 

Voz do vento ...

publicado por Voz do vento às 14:06 | comentar | favorito
sinto-me: Happy and in peace...