Fala-me de amor...

 

Numa brisa de manhã de Agosto, pára no tempo e revê o tempo de outrora que não volta. Não quer que volte mais. Sonho de uma mulher - criança que idealizou sonhos, amor incondicional, um companheiro para a vida inteira. Sonhos atraiçoados, tristeza amarga, promessas quebradas. E o porquê que paira. A mente que tagarela o pensamento, incriminando-a por algo que não correu bem. Supõe  que é a culpada. Cria em si, a culpa pelo facto de não ter corrido bem os sonhos tal como idealizou. E nesse precioso momento, deverá parar com tais pensamentos que perturbam e que a leva à loucura.

 

A frustração e a insegurança tomam os seus lugares como reis do tempo. O medo da solidão chega, logo a seguir fica petrificada no tempo que pára à sua passagem. Adormece na dor, na mágoa, sente-se que nada valeu e apenas é uma pessoa ingrata porque não aproveitou a oportunidade de ter um companheiro ao seu lado. Companheiro que dedicou todo o seu tempo, os sonhos que adiou, os projectos que abdicou.

 

Foi e era a personagem principal e acreditava que foi ela que simplesmente, falhou!

 

Estará cega, não se ouviu a si própria, o chamamento da dor, esqueceu daquelas noites longas de tortura com palavras quando não concordava com a situação do momento com a imposição de conceitos e preconceitos. A tortura dos sentidos com as palavras " senão, então será assim e assim..."

Viver na ilusão de ser correspondida ou de ser amada é viver sem nada porque a sensação é a mesma. Vazio.

 

Quem foi essa pessoa escolhida foi alguém que no momento surgiu para a fazer sair do "casulo" da inocência. Alguém que na sua inocência acreditou nas  palavras " trabalhadas e melodiosas" e considerou como sábias.

Alguém que o colocará num pedestal em primazia ao seu próprio SER.

 

Desrespeitou a si própria por aquele alguém, abdicando da sua profissão seja qual fosse a que queira ter seguido para esse alguém ser um profissional liberal de renome, reconhecido entre os seus pares com estatuto alcançado e ela ficou na sombra de algo que acreditava ser incapaz de encarnar. Era o braço direito, a força e a luz na escuridão desse alguém.

 

Os anos passaram a largos passos até aperceber-se que ficou para trás, a gestão da casa, a educação dos filhos, a imagem da perfeição no papel que a  sociedade idealizou para essa mulher será sempre na sombra de um companheiro.

E depois, o tempo passou, os sonhos ficaram como sempre foram - SONHOS porque não os concretizou sempre com a expressão - " Outro dia, irei ver ou saber como poderei fazer!!", "quando tiver condições, agora não, tenho os filhos pequenos, tenho que o ajudar"..

 

 

E desta forma domesticou o seu pensamento, adiando com o sentido do dever a cumprir e a obrigação de agradar esse alguém. Para quê?

Será que esse alguém que tanto teve em consideração que o colocou no pedestal da sociedade, o mereceu.

Acima de tudo a vida é uma aprendizagem e o SER humano deverá ter a capacidade de analisar cada momento da passagem  e esse momento da verdade chegará, mais dia ou menos dia.

Poderá ser da forma que menos esperamos, abruptamente irrompe na sua vida e de forma surreal. E esse alguém cai no pedestal que lhe foi atribuído sem o merecer. Quem o colocou naquele lugar, foi ela. Foi ela que menosprezou o seu EU e achou que não era capacitada para estar no papel principal da sua própria vida. Não era digna de ser a pessoa principal da sua própria vida, como foi capaz de fazer isso a si própria. Mas fê-lo durante muitos anos, viveu adorar uma personagem que com subtileza a manipulava o seu SER e a abafava com as palavras sem qualquer sentimentos como o apelo constante ao amor.

 

Será que existiu tal amor de tal forma como o retribui-o. Expectativas muito elevadas e desfraldadas mas porque será que a consciência feminina adultera os sentimentos  e com o tempo verificará que sempre haverá uma razão para a qual não queremos ver . Queremos continuar acreditar que é um sonho que os momentos difíceis serão passageiros que as divergências ultrapassadas e a vida continuará. Volta a enganar-se a sua intuição, a desvalorizar as suas capacidades, a menosprezar o seu EU porque foi educada para agradar e não reclamar. No momento que caminha para o fundo do precipício , sozinha em que todos aqueles que a rodeiam desviam o olhar, não há um estender de uma mão de amparo. Só a escuridão à sua volta.

Para erguer-se em princípio entrará na escuridão, na dor, na angústia de momentos difíceis até conseguir ver, novamente, a luz que a ilumina. Poderá demorar muito tempo.

 

A ausência da paz interior, a auto - estima baixa, o deixar de gostar de si própria, os pensamentos negativos destrutivos apoderam-se dela. Não consegue estabelecer os limites para a sua liberdade. Amar alguém  não significa que tenha que anular-se como ser humano e dar o privilégio ao outro. Amar não significa mergulhar na escuridão para a felicidade do outro. Amar é uma partilha  de dar e receber entre dois seres. Numa relação emocional a partilha tem que ser simultânea e repartida para ambos os lados. Não poderá existir um só lado a batalhar unilateralmente para a sobrevivência da relação. Não resultará.

 

Haverá sempre uma altura em que tudo desmoronará e sentirá uma enorme frustração. A frustração apodera de si e seguir vêm a mágoa, a dor, o ódio e não conseguirá perdoar de forma a libertar o seu SER. Mergulha sem conseguir recuar nessa escuridão sem fim e deverá continuar em frente é uma voz interior que sussurra. Mas como o farei?

Sentirá perdida num vazio que se apodera do corpo, da mente, sentirá debilitada física e psicologicamente. Acredita que não voltará a ser a mesma. Sente a desorientação atormentar-la. Não vê a luz ao fundo do túnel nem  uma porta abrir-se para acolhê-la.

Mergulha em cada degrau que a levará ao precipício.

E agora? O que farei?

 

Questões que a mente atormenta e que não dá qualquer resposta. Valeu a pena tanta dedicação para ficar num fargalho. Valeu a pena tanta abdicação para tão pouco ou nenhum reconhecimento ou até agradecimento.

Tal como se afirma " partiu a cara"- A queda é imediata e destrói tudo à sua volta.

A reconstrução do seu SER, a sua reabilitação é demorada, deve-se principalmente, ao crescimento de cada um perante as adversidades e as contrariedades apresentadas. Ser capaz de perante os erros e as falhas cometidas saber tirar o partido e olhar como se nova oportunidade se tratasse para permitir o crescimento e amadurecimento pessoal e espiritual.

É uma passagem que a  cada um será permitido o fortalecimento do SER que somos, a demonstração da tenacidade, a coragem que a persistência na luta ou  permitir a derrota da vida e deixarmos ser vencidos e abolirmos como vítimas perante as circunstâncias da vida. A escolha é nossa. A cada um de nós caberá o livre arbítrio da nossa salvação ou condenação.

Somos aquilo que queremos acreditar em ser. Como se a nossa passagem reflectisse na procura constante da perfeição. É uma verdade, todo o ser humano procura a perfeição, a felicidade, o estatuto privilegiada, algo perfeito, a satisfação plena.  A perfeição adquirida ao longo da vida, aos momentos áureos e às quedas que com sabedoria nos permitirá crescer e amadurecer como seres.

 

 

 

FALA-ME DE AMOR

Acabei por ter
um fraco por ti.
Que foi como veio,
e eu não percebi...

Pergunto como está,
a velha certeza:
-será que tu sabes, o que correu mal?

-É que hoje eu já sabia dizer:
Ama-me
Leva-me,
para lá, do meu horizonte
-Falando de amor...
-Fala-me de amor...

Segue-me, prende-me,
Para lá, do meu horizonte
-Falando de amor...
-Fala-me de amor...

Quero-te dizer,
que ainda estou aqui;
Todo o tempo á espera
de ti.

Quero-te alcançar,
e estou a pedir,
para ser como era,
quando te conheci...

 

letra de SANTOS E PECADORES

 

 

Voz do vento...

publicado por Voz do vento às 21:46 | comentar | favorito
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sinto-me: Mergulhada no passado
música: Fala-me de amor - Santos e Pecadores